Três vezes São Paulo

Há mais ou menos sete meses, passei algumas madrugadas pesquisando passagens e hospedagem para alguns dias em São Paulo com a Lis. Era junho, nós estávamos de férias da faculdade, e tudo encaixou para que a gente pudesse fazer a nossa segunda viagem juntas.

decolagem no aeroporto dep. luís eduardo magalhães, em salvador, depois de uma conexão inesperada

Organizamos tudo, e a dinâmica ficara a seguinte: a Lis chegaria em São Paulo na quinta de manhã, eu e Jess na sexta de manhã, logo encontraríamos com o meu cunhado, noivo da Jess – que atualmente está estudando lá – e depois, no sábado, com o irmão da Lis, que iria fazer uma prova de concurso. Em seguida, no domingo, iríamos todos seguir viagem para Campos do Jordão. Porém as coisas não saíram exatamente como o planejado.

Pelo menos não a parte em que eu e minha irmã chegaríamos na sexta de manhã. Por um motivo muito corriqueiro para algumas pessoas, mas não para nós, que sempre fomos extremamente organizadas com esse tipo de coisa. Nós perdemos o voo.

Foi extremamente frustrante e fiquei perplexa por ter conseguido ser tão descuidada daquela forma, e o sentimento só aumentou quando o atendente da companhia aérea foi nada gentil ao lidar conosco. Uma situação que já era ruim conseguiu ficar pior.

Depois de muito conversar com outra funcionária — que foi mais amigável, pelo menos — descobrimos que a nossa única opção seria um voo que sairia às 12h14, com uma conexão em Salvador. Nosso voo original era direto, às 6h30. E nós o perdemos por causa de menos de cinco minutos. Esse foi o dia em que eu compreendi, de forma literal, a expressão que afirma que tempo é dinheiro.

o alívio de finalmente ver a pista do aeroporto internacional de guarulhos

guarulhos, sp
23 jun, por volta das 17h

Chegamos em São Paulo apenas 7h depois do planejado, quando a luz do dia já estava indo embora. Depois de uma pausa para descansar um pouco do dia extremamente estressante e para carregar nossos celulares, partimos na missão de encontrar o local de onde saem os ônibus para o metrô Tatuapé — que fica em frente ao shopping de mesmo nome, nosso ponto de encontro com o Kleiner.

Com a ajuda da Lis e de um funcionário do aeroporto, logo encontramos o ônibus e o longo percurso que ele faz nos permitiu descansar ainda mais para o rojão que viria a seguir: metrô paulistano na hora do rush. A ajuda do Kleiner com nossas malas foi muito bem vinda, porque eu juro que não sei como encontrava forças para andar tanto e tão depressa, em meio às várias baldeações que precisamos fazer para enfim chegarmos ao nosso destino: a vila madalena.

kéra smart hostel
vila madalena, sp
23 jun, por volta das 20h

Encontrar o hostel foi a parte mais fácil do dia. Logo descobrimos que ele era simples, mas ainda assim aconchegante. Foi a minha primeira experiência com esse tipo de acomodação e achei tudo muito tranquilo — e, nesse caso, a localização praticamente ao lado do metrô só contou pontos positivos.

Entramos e logo uma moça veio nos receber. Enquanto eu fornecia os meus dados de forma um tanto eufórica, ouvi passos descendo os degraus da escada localizada bem ao lado da recepção. Não demorou muito para eu reconhecer o aconchego na forma de moça bonita — depois de um dia tão exaustivo psicologicamente, ver o rostinho da minha melhor amiga fez todo o estresse virar fumacinha. Não é que aquele papo é verídico? Aquele papo de que lar às vezes é uma pessoa e não um lugar. Bem, eu posso comprovar.

O fato é que: eu não estava cansada psicologicamente apenas por todo o inconveniente de ter perdido o voo. Essa viagem aconteceu em um momento não muito bom da minha vida, em que eu estava extremamente vulnerável a todo tipo de sentimento ruim. Esses dias fora foram uma tentativa de espairecer, e mesmo isso eu tinha conseguido transformar em algo estressante. A frustração tomava conta de mim sempre que eu me permitia parar para pensar. Por essas e outras que eu posso afirmar o quanto a presença da Lis me confortou naquele momento.

Kéra Smart Hostel | Vila Madalena, São Paulo

Eu e Jess a seguimos para o nosso quarto, no momento compartilhado com outras duas meninas: uma de Porto Alegre e a outra de Manaus. Guardamos nossas coisas e partimos para a missão seguinte, que era encontrar algo para comer.

Kéra Smart Hostel | Vila Madalena, São Paulo

coisas boas acontecem aqui

A Avianca até melhorou no meu conceito depois de servir sanduíches muito bons durante os voos — sou facilmente comprável com comida, sim. Mas mesmo eles não conseguiram segurar a minha fome por tanto tempo, então fomos andando até uma hamburgueria ali perto, que a Lis encontrou pelo ifood: a primata.

vila madalena, sp
23 jun, por volta das 21h

Estava frio lá fora. Pelo menos para três meninas acostumadas às temperaturas do inverno bem mais ou menos do nordeste (à essa altura, já tínhamos nos despedido do meu cunhado). Mas mesmo isso não nos desanimou para ir em busca do nosso merecido lanche, então logo encontramos a Primata e escolhemos o que íamos pedir — pra viagem, porque os lugares no interior do local estavam todos ocupados e não tinha a menor chance de ficarmos ali passando frio pela próxima hora.

Demorou um pouco, mas valeu a pena: nossos pedidos vieram todos muito bem embalados e organizados, recebemos um atendimento super simpático dos rapazes que trabalhavam no local e ainda rolou um desconto inesperado na conta. E a comida, como constatamos depois, estava maravilhosa. Finalmente um pouco de sorte nesse dia estabanado.

De volta ao hostel, tomei um banho bem quente e me preparei para dormir, ouvindo os sons da maior capital do país ultrapassarem a janela fechada e invadirem o quarto. E através deles finalmente me dei conta de que estava lá mais uma vez, que tudo tinha dado certo afinal. Não o clima frio, não o caos do metrô ou as pessoas apressadas falando ao telefone em seus sotaques carregados de erres. Mas os sons que persistem mesmo no mais silencioso dos locais e sinalizam que aquela cidade nunca dorme. Eles sim.

Mentalizei uma, duas, três vezes. Três vezes São Paulo. Era a minha terceira vez em solos paulistanos, e eu iria fazê-los valer a pena.

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jennifer maccieira

escrito por

jennifer

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