Era aproximadamente 7h da manhã quando desembarquei no Aeroporto Internacional Carrasco, em Montevideo. Pisquei uma, duas, três vezes – tudo muito branco, organizado, moderno. Seria a capital uruguaia uma daquelas cidades que esqueceu seu passado e sua história? Eu teria que esperar para ver, e esse questionamento por um momento deu lugar à ansiedade de se estar em um lugar novo pela primeira vez.
Algumas horas depois, subi no ônibus com a mochila nas costas e senti o castigo da temperatura. Meu cabelo batia pouco abaixo do ombro e constatei não ter escolhido roupas muito adequadas. Um pensamento equivocado. Mal sabia eu que o clima da cidade desconhece a palavra estabilidade, algo que finalmente entenderia dias depois.
Era verão, afinal. Esqueci um pouco o calor que fazia dentro do transporte público e as ruas de Montevideo logo concentraram toda a minha atenção. De repente tudo era fácil – chegar ali, estar ali. Me sentir ali.
Não foi amor à primeira vista. Talvez pela dificuldade em aceitar a minha própria personalidade é que eu olhasse para aquelas esquinas com tanta desconfiança. Levou um tempo, mas eu entendi: Montevideo é uma capital introvertida – um mundo inteiro está ali pronto para ser visto. Mas é preciso estar disposto a ver.
Aos poucos fui entendendo e me adaptando ao seu ritmo. A cada passo dado era um misto de sentimentos no fundo do peito. Meu humor estava cinza como as ruas da Ciudad Vieja, a minha casa na capital daquele país tão cheio de personalidade. Porque sim – o Uruguai tem sua própria personalidade. Mas ao andar por aquelas ruas, a sensação era a de que a vida parecia querer me pregar uma peça e nenhum lugar no mundo conseguiria me curar disso.
Foi em Montevideo que eu andei sozinha em um país diferente pela primeira vez. Esperei a coragem vir e saí pela porta do hostel rumo às ruas desertas da Ciudad Vieja naquele verão. O dia era oito de janeiro e a maioria dos uruguaios estavam se refugiando no interior para aproveitar a praia e o tempo quente.
Quanto a mim, segui dois quarteirões em linha reta até virar à esquerda e chegar numa pracinha – essa sim bastante movimentada. Lanchonetes, músicos, sorveterias – tinha de tudo e por um momento eu me senti livre e privilegiada por poder estar ali.
Caminhei em meio a estandes de artesanato locais, observando e sendo observada. Viajar, afinal, é isso: conhecer e se deixar conhecer. Entender o mundo do outro e aceitar que o seu não mais será o mesmo depois daquela experiência, para o bem ou para o mal. Mas quase sempre para o bem.
Ali, sozinha, em meio ao burburinho local eu me senti acolhida. Notei que é preciso absorver a energia boa à minha volta sem esperar absolutamente nada em troca.
Finalmente constato meu equívoco e lamento ter pensado por um segundo sequer que a capital do Uruguai esqueceu suas raízes. Elas estão por todo lugar.
As ruas de Montevideo falam – e eu precisei aprender a ouvir.