Depois de pouco mais de um mês sem abrir um livro direito, agora em julho, mais precisamente ontem, eu finalizei a leitura de O amor nos tempos do cólera, do Gabriel García Marquéz. E preciso dizer: não gostei nada do que li.
Entendo que ele é um clássico da literatura latinoamericana e não posso negar o quanto é extremamente bem escrito, mas infelizmente isso não foi o suficiente. Explico: o livro é vendido como uma ode ao amor absoluto e determinado, daqueles que perpassam os anos e se mantêm firmes, mas o que eu li foi uma história que retrata uma obsessão, um “amor” unilateral e nada saudável.
“Florentino Ariza não deixara de pensar nela um único instante desde que Fermina Daza o rechaçou sem apelação depois de uns amores longos e contrariados, e havia transcorrido a partir de então cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias.”
O trecho acima resume muito bem o fio principal da história. Florentino Ariza é um simples telégrafo que se encanta por Fermina Daza ao vê-la pela primeira vez, e os dois começam então a se corresponder por cartas durante um tempo – até que o pai de Fermina descobre e a manda para passar uns tempos com sua prima, longe da cidade.
Florentino descobre um meio de continuarem se correspondendo até que Fermina Daza retorna e, ao vê-lo em pessoa depois de tanto tempo, descobre que aquele amor que acreditava sentir na verdade não existia, e rompe os laços com Florentino Ariza.
O amor nos tempos do cólera, como eu disse anteriormente, é um livro muito bem escrito e que tem personagens super bem caracterizados, mas reconhecer isso não me faz gostar mais deles. Acho perigoso tratar essa história como sendo de amor.
Muitos acham bonito a persistência e a entrega de Florentino Ariza, que desde o dia em que é rejeitado por Fermina não pensa uma única vez em viver sua vida e encontrar alguém que o aceite – pelo contrário, ele decide que não importa o que aconteça ou quanto tempo se passe, um dia eles ficarão juntos, e passa a vida em função dessa ideia.
É importante mencionar aqui que esse não é um sentimento recíproco, e é a partir desse momento, na minha opinião, que a história deixa de ser sobre amor e transpassa a linha da obsessão. Considero Florentino um personagem desprezível, especialmente depois de certas atitudes mais para o final da história, e fiquei extremamente aborrecida em como tudo isso é romantizado nesse livro.
Também preciso deixar registrado que há inúmeras passagens problemáticas no que se refere a questões de raça e gênero, e ainda que o livro tenha sido escrito em outra época isso me incomodou bastante. Assuntos como racismo, machismo entre outros são explícitos em determinados momentos e me deixaram bastante insatisfeita com a obra num geral.
Eu não consegui gostar de O amor nos tempos do cólera e sinceramente não recomendo a leitura, mesmo sendo adepta do “leia e tire suas próprias conclusões”. Simplesmente não funcionou comigo e correndo o risco de soar repetitiva, encerro essa resenha reafirmando: essa não é uma história sobre amor.
2/5
lido em 8 de julho de 2020
país: colombia