Pessoas Normais é um livro agridoce. Foi o primeiro pensamento que me ocorreu ao ler a última frase da história — aliás, que história.
Ela inicia com Marianne e Connell estudando na mesma escola no interior da Irlanda. Connell é popular e tem amigos – Marianne, não. Eles fingem não se conhecer, mas a mãe dele trabalha fazendo a limpeza da casa da família de Marianne e nos encontros que acontecem quando Connell vai buscá-la eles acabam desenvolvendo uma íntima e estranha relação.
Um tempo depois os dois se encontram na universidade, e a dinâmica não poderia ser mais diferente. Marianne é conhecida por todos e vai a muitas festas, enquanto Connell se sente cada vez mais distante do mundo a sua volta. É nesse cenário que ocorre a dinâmica do relacionamento dos dois, sempre permeado de incertezas causadas pela má comunicação.
Durante a leitura do livro eu não estava dando muita coisa, mas ia avançando as páginas devido à fluidez da narração. Ela não é contínua, mas é cronológica, e Sally Rooney apenas nos mostra acontecimentos marcantes (ou nem tanto, mas ainda assim importantes) da vida dos dois. Pode causar uma estranheza no início, especialmente porque os diálogos não são marcados por aspas ou travessões, mas eu logo me acostumei e achei incrível como tudo flui.
Pessoas Normais é complexo em sua simplicidade. Trata de um relacionamento de uma forma realista e crua, muitas vezes dolorosa e que faz a gente pensar. Não é bonito, mas é real. É um livro sobre as consequências de tudo aquilo que nunca dissemos e mesmo assim incansavelmente esperamos que chegue ao outro. É um livro sobre a vida. Sobre a nossa vida — e toda a incerteza que a permeia.
Paro para pensar um pouco e chego à conclusão de que talvez eu tenha perdido o timing pra falar sobre esse livro. Talvez o hype tenha ficado no início de 2020, talvez tudo o que eu senti ao ler essa história tenha sido algo tão singular que precisei de tempo pra conseguir falar sobre ela.
Tempo. Algo que é tão belamente representado na história de Marianne e Connell e é quase um personagem tão protagonista quanto eles. O tempo de crescer. O tempo de amar. O tempo de entender quem somos nesse mundo e o quão importante determinadas pessoas conseguem se mostrar quando tudo o que queremos ter ao lado delas é tudo o que não temos: tempo. Talvez ele passe e tudo continue igual, talvez ele passe e tudo seja diferente. A gente só vai descobrir vivendo, e isso Pessoas Normais nos ensina muito bem.
Talvez por toda essa crueza misturada a essa simplicidade é que muitas pessoas não gostem desse livro. Talvez por esse mesmo motivo muitas pessoas, assim como eu, amem esse livro.
Pessoas Normais, assim como a nossa vida, é um grande talvez.
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“Até nas lembranças ela achará este momento insuportavelmente intenso, e tem consciência disso agora, enquanto ele acontece. Nunca se achou digna de ser amada por alguém. Mas agora tem uma vida nova, da qual este é o primeiro momento, e mesmo depois que muitos anos se passarem, ela ainda vai pensar: Sim, foi aí o começo da minha vida.”
“De um jeito ou de outro, exprimia mais emoção do que em qualquer outro momento de sua vida e, ao mesmo tempo, sentia menos, sentia nada.”
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5/5
lido em 5 de agosto de 2020
país: irlanda