os caminhos até campos do jordão

Visitar Campos do Jordão foi o motivo que impulsionou a minha terceira viagem para São Paulo. A cidade é pequena, fria e muito bonita – daquelas bem com a cara da Europa, por conta da arquitetura e do clima. Fica localizada na Serra da Mantiqueira, a mais ou menos 180 km de distância da capital do estado. 

Era por volta das 15h30 de um domingo quando pegamos as estradas paulistas e seguimos rumo a Campos. Ao chegar, o dia já era noite e a temperatura antes agradável havia se transformado em um frio insistente. Apenas momentos antes, observava pela janela do carro as cores do entardecer que se aproximava, da mesma forma que o nosso destino. Passava pelas cidades imaginando o que fariam naquele momento seus moradores, se estariam satisfeitos pela chegada do frio ou ansiando pelo momento em que ele iria finalmente embora.

Não existe frio na minha cidade. Pelo menos, não daquela forma – então eu fazia parte do primeiro grupo, o dos satisfeitos. A não ser pelo fato de que eu era uma turista, não uma moradora. Existe uma diferença na maneira com que encaramos algumas situações quando estamos somente de passagem. A temperatura, a meu ver, é uma delas.

Durante o reconhecimento inicial do centro turístico da cidade naquela primeira noite, me vi feliz. A Vila Capivari toda iluminada era palco para o meu contentamento em estar ali, onde estava e com quem estava. Desde a fumaça que saía das nossas bocas ao falar ao vinho quente de gosto duvidoso derramado pela garçonete levemente desastrada e que fez questão de trazer um outro, por conta da casa – tudo era motivo para sorrir. Tão diferente da minha realidade, ali eu me permiti viver sem medos.

Era inverno. Logo o frio começou a ficar cada vez mais cortante e a dificultar muito a vida de quem não estava tão preparado para ele, como era o caso de alguns de nós. Partimos em busca de um chocolate quente para aquecer um pouco a garganta e depois, enfim, nos rendemos a uma feirinha local que vendia roupas para o frio. Uma luva aqui, um gorro ali: estávamos um pouco mais aquecidos para enfrentar os dias seguintes.

O termômetro marcava menos de 10 graus e, mesmo devidamente vestidos, logo a vontade de estar em um ambiente quentinho falou mais alto. Fomos para o nosso quarto quíntuplo lotado de camas e edredons, com uma tv nada moderna e um chuveiro que não conseguia se decidir se esquentava ou não. Fazia parte da graça da coisa: o luxo por si só era estar em Campos do Jordão, todos juntos em um mesmo quarto, fortalecendo laços e criando novos. A acomodação, naquele momento, pouco importava.

O dia amanheceu e já tínhamos a primeira parada definida – o Parque Amantikir, com seus vários jardins e o famoso labirinto verde. Andei por entre os vários tipos de jardins – o japonês, o alemão, o francês – e até mesmo me perdi no labirinto, sempre muito consciente do momento presente. Os peixes nos lagos, as lavandas ao sol, tudo tão bem cuidado e cumprindo bem o seu papel de encantar os turistas ali presentes.

Fotografava tudo com a sensação bonita de quem vê as coisas pela primeira vez. A sensação bonita de estar ali, apenas. Estar ali, no momento. Não apenas vendo as horas passarem mas vivendo as horas que passam. E elas passam.

No final daquela tarde dirigimos até Pindamonhangaba, município paulista de nome engraçado localizado a apenas alguns quilômetros de Campos do Jordão e que nos rendeu alguma diversão no caminho até lá.

O que não esperávamos, porém, é que Pinda, pros mais íntimos, escondia uma joia de rara beleza: o até então não muito popular Pico do Itapeva. Atualmente dono de uma ampla estrutura, naquele junho de 2017 o local era apenas uma elevação na beira de uma montanha onde turistas dispostos a passar algum frio iam para apreciar a vista.

Isso ou talvez não tenhamos de fato encontrado o lugar exato, mas o pedacinho de terra em que estacionamos o carro e assistimos ao dia virar noite já valeu o esforço da visita. Lá do alto, a sensação térmica ficava ainda mais gelada — era possível sentir o vento congelante ultrapassar as camadas de roupas e chegar até os ossos. Nada que tirasse ou sequer diminuísse a beleza de estar ali.

De volta a Campos do Jordão, nossa estadia chegava ao fim. Uma estadia que ainda reservou algumas surpresas – positivas e negativas – e que carimbou no peito um lugar cativo e muito, muito especial. Lá no alto do Morro do Elefante, já na última manhã, pedi a uma pessoa ao lado que tirasse uma foto nossa com a câmera instantânea.

Hoje olho para ela e sei que há magia no encontro – e Campos do Jordão me ensinou que não é preciso muito para encontrá-la.

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jennifer maccieira

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jennifer

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