hoje não

Tenho pra mim que um dos meus traços mais fortes de personalidade é o fato de viver em uma montanha russa. Não literalmente, é claro — afinal nunca coloquei meus pés em uma. 

Tentar me agarrar a qualquer fiapo de estabilidade chega a ser exaustivo na maior parte do tempo, até que precisei entender que sou uma pessoa inconstante. Meu foco jamais permanece por muito tempo no mesmo assunto, minha mente pula de um estado de total interesse para o desinteresse completo em um piscar de olhos. Esse piscar de olhos às vezes pode durar alguns dias ou, numa melhor hipótese, algumas semanas. 

Esse é um processo exaustivo porque eu amo me interessar pelas coisas. E quando digo amo, eu amo mesmo. É isso o que me move, é o que muitas vezes me tira de uma crise e me faz voltar a acreditar que a vida vale a pena. Me faz sentir viva. É então que logo a euforia se transforma em frustração quando sinto esse interesse escorregar pelas minhas mãos. 

Certa vez um ex namorado me disse: “Você parece uma banda em que os integrantes mudam de lugar e produzem um som diferente a cada dia. Eu falo com você pela manhã e nunca sei que Jennifer vou encontrar”.  Nunca esqueci dessas palavras dele porque elas me fizeram pensar. E pensar. Aí vai (mais) um fato sobre mim: eu penso demais. Em tudo, o tempo todo. 

Jamais cheguei a conclusão alguma. Não sei se concordo ou discordo dele, mas também sei que não cabe a mim concordar ou discordar. A gente não tem mesmo muito controle sobre como parecemos ser aos olhos de outra pessoa, porque essa visão leva consigo muito dessa outra pessoa. Sua vida, seus sentimentos, seu jeito de lidar com eles. Eu não tenho como definir completamente todas as pessoas de quem gosto, mas eu posso passar horas falando sobre como elas me fazem sentir. E isso tem muito de mim, não apenas delas. 

Saber disso é libertador na mesma proporção em que é assustador, especialmente para alguém que precisa estar no controle de tudo o tempo todo — saber que não tenho como controlar como as outras pessoas se sentem a meu respeito é um pouco desesperador. Eu apenas tento ser eu mesma, e esse é outro ponto sensível por aqui. 

Eu não me sinto eu mesma na maior parte do tempo, com a maioria das pessoas com quem tenho contato. Nem mesmo na terapia, um ano depois de ter começado as sessões, eu consigo sentir que estou conseguindo ser eu mesma. Me sinto retraída, desajustada, exposta de uma forma que não deixa que eu me permita ficar confortável em ser quem sou. E isso cansa. Cansa muito, cansa sempre. Vivo cansada. 

Os dias passam sem que eu consiga encontrar um equilíbrio. Sempre estou razoavelmente bem ou extremamente mal — sem jamais encontrar um meio termo. Olho ao redor e sei que isso não acontece apenas comigo, mas eu  não tenho como falar pelos outros. Eu apenas tenho como falar por mim. Mesmo assim, não deixo nunca de observar: acho que faz parte de nós estar atento ao outro. Ou pelo menos deveria fazer. 

O fato é que parece que está todo mundo mal, e aqueles que parecem estar bem apenas não estão sendo completamente sinceros. E se estiverem, bom, então eu tenho que admitir: tenho um pouco de inveja. Às vezes fico pensando como a minha vida poderia ser caso eu fosse diferente, eu sentisse diferente, eu de fato vivesse diferente. Parece que não sei viver — ao menos essa é a sensação que tenho. O tempo todo. Sei que pensar nisso não me traz nada de bom e dói na maior parte das vezes, mas não consigo evitar. 

Especialmente em dias como esse de hoje, eu não consigo evitar. E não tenho qualquer pretensão de chegar em uma conclusão aqui: apenas estou despejando essas palavras para tentar entender o que está acontecendo. 

Tentar talvez seja o verbo que eu mais use, seja nesses textos de blog ou em sessões de terapia. Sigo tentando — mesmo que não saiba exatamente o quê. Em algum momento espero descobrir. 

E, finalmente, conseguir. 

Eu poderia ter finalizado o texto com essa última frase, mas ela carrega consigo um quê de otimismo que eu simplesmente não consigo sustentar. Não agora. Não hoje. 

Me sinto como a Amelie do filme O fabuloso destino, especialmente na cena em que a questionam se ela acredita em milagres e ela responde “hoje não”. Acho que eu deveria internalizar um pouco mais essa cena, porque quando ela enfatiza o “hoje”, ela deixa em suspenso a possibilidade de que amanhã será diferente. Mas o fato é que todos nós vivemos no hoje, não no amanhã.

E talvez amanhã eu acredite em milagres, sim. Mas hoje, não.

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jennifer maccieira

escrito por

jennifer

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