Estamos nos primeiros dias de junho, e eles seguem parecendo todos iguais. Sinto a urgência de eternizá-los de algum modo, sentir que estou vivendo nos detalhes e não apenas sobrevivendo num plano geral. Já tentei diversas vezes documentar esses pequenos momentos em vídeos mensais que me passassem a sensação de vida a ser vivida enquanto assisto. Não deu muito certo, mas ainda não desisti.
Decidi, então, tentar outro formato, e é este aqui: palavra escrita, sentimentos que me escapam em forma de texto. Ainda ontem foi janeiro, e mesmo assim parece que vidas inteiras nos separam. Esse início de ano passou como um borrão, tanta coisa acontecendo e ao mesmo tempo a sensação é de estar parada no tempo. É contraditório e desesperador na mesma proporção.
Parece que nenhum sentimento bom tem o direito de durar. É como se os tempos fossem tão sombrios que qualquer coisa contrária se desfaz sem que possamos ao menos sentir um gostinho, sem que possamos pensar “é, está tudo muito ruim, mas pelo menos isso de bom aconteceu”, porque simplesmente não dá tempo. Esse post é uma tentativa de fazer esses sentimentos durarem.
Em janeiro, começou a vacinação aqui no Brasil. Fevereiro chegou e já no seu primeiro dia completei vinte e quatro anos nesse mundo, e foi um dia relativamente bonito dentro do possível. Eu já tive aniversários ruins o suficiente para saber reconhecer um bom. Nos primeiros dias de março ganhei de presente um livro que queria muito – em abril, retomei contato com uma pessoa de quem estava me afastando.
Maio veio e com ele a primeira dose da vacina para o meu cunhado, que é professor. Também descobri que uma das minhas escritoras favoritas, a Martha Medeiros, está escrevendo o terceiro volume de uma coleção que amo: Um Lugar na Janela, com relatos de viagens. Tanto me inspira que cheguei a escrever alguns eu mesma. Hoje é o terceiro dia de junho, e amanhã, dia quatro, é a vez do meu pai vacinar.
São pequenas coisas que na prática significam sorrisos enormes. Precisamos de mais sorrisos – mais do que nunca, precisamos encontrar motivos para eles. No último fim de semana, em uma conversa com uma amiga, chegamos no assunto viagens. Descobri que ela tem uma lista de lugares que gostaria de visitar, o que me animou a criar uma também. Coisa boa é perceber que pessoas inspiradoras não precisam ser as famosas na internet: às vezes elas estão ali do seu lado.
É claro que não podemos viajar agora, e nem fizemos planos para tão cedo. Mas a possibilidade remota não deixa de ser uma possibilidade, e é bom saber que elas existem. Que mesmo viver em tempos tão difíceis para sonhadores não impede esses mesmos sonhadores de sonhar, porque é o que sabemos fazer. É só o que sabemos fazer.
Continuemos a sonhar, porque toda realização foi antes um sonho. “Depois de tempestades sempre vem bonanças… Há muito oceano em nós”, foi o que me disse, um dia, uma amiga da minha irmã. Eu tinha acabado de passar pela minha maior tempestade particular, e nunca me esqueci das suas palavras. Elas servem tão bem ainda hoje.
É como disse Drummond: “Interrogam-se no espelho / medindo o tempo perdido / até que venha a manhã / trazer leite, jornal, calma”.
A certeza de que sim, amanhecerá. Sempre.