A primeira coisa que me chamou atenção para esse livro foi o título. Eu sempre gostei de títulos longos e levemente estranhos, então somar o título adoravelmente esquisito + capa adoravelmente esquisita + questionamento sobre a loucura habitar do lado de dentro ou de fora, foi o bastante para que eu ficasse interessada em ler Quando finalmente voltará a ser como nunca foi.
A história se passa no norte da Alemanha e é narrada por Joachim, o mais novo dos três filhos do diretor de um hospital psiquiátrico para crianças e jovens. Ele vive com a família em uma casa no terreno do hospital, e por isso convive diariamente com a rotina peculiar de cada paciente – e os gritos deles são sua canção de ninar.
“Cada vez mais tenho a impressão de que o passado é um lugar ainda mais inseguro e instável que o futuro. O que deixei para trás não deveria ser algo seguro, concluído, que já fora e só esperava para ser narrado, e o que tenho pela frente não deve ser o chamado futuro a ser moldado?
E se eu tiver de moldar meu futuro?”
A narrativa desse livro é bem diferente – os acontecimentos não se apresentam em uma cronologia contínua, e é tudo basicamente sobre a rotina do Joachim com a sua família, todos inseridos naquele dia a dia nada normal do hospital psiquiátrico. Acho que foi por conta desse detalhe que minha leitura não foi rápida, mas isso nem sempre significa algo negativo. Na minha opinião, esse não é mesmo um livro para se ler rápido, e a mensagem deixada ao final da história, para mim, só confirmou isso.
É através dessa rotina que conseguimos obter algumas respostas para a pergunta presente na capa.
Muitas vezes durante a leitura eu ficava apenas me perguntando aonde tudo aquilo iria me levar. Os personagens não são exatamente simpáticos nem possuem uma personalidade cativante, mas mesmo assim eu gostei do Joachim – talvez por estar inserida na mente dele e ter acesso a todos os seus pensamentos. Fato é que, mesmo que não pareça, a história chega em algum lugar. Talvez não aquele que a gente espera, mas chega. Como eu disse, consegui sentir que uma mensagem nos é passada no final de tudo e isso faz valer a leitura.
Essa questão sobre a loucura habitar do lado de fora, no ambiente em que estamos, ou surgir de dentro de nós, realmente é abordada nas formas mais sutis ao longo do livro. O próprio Joachim é a representação dessa pergunta – suas atitudes nos remetem sempre a ela.
Ainda que eu não tenha me sentido envolvida por nenhum dos personagens, eles são o ponto alto da história. Isso porque a personalidade peculiar de cada um ajuda a construir a premissa de uma forma coerente. A forma como, ao longo do livro, o autor apresenta os pais do Joachim é extremamente interessante – a mãe, a representação da prática; o pai, da teoria. Acompanhar a convivência dos dois é perceber como não existe a melhor forma de lidar com todas as situações – em todas elas, haverá prós e contras. De nada adianta sabermos tudo sobre teorias e nada sobre a prática, e vice-versa. O livro aborda essa questão de um jeito muito sutil e eficaz.
Visualmente falando, ele é muito bonito. Os capítulos são todos iniciados com uma frase – faça ela sentido ou não. Eu gosto de livros com essa característica, por acreditar que estimula a nossa imaginação e faz com que a curiosidade de ler as páginas relacionadas àquele título só aumente. Também existem pequenos detalhes no trabalho gráfico que remetem à atmosfera do enredo e considero isso algo muito positivo – afinal, uma história não necessariamente é contada apenas com palavras.